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terça-feira, 2 de junho de 2020

Um dia de África no Brasil: Gênero, Cultura e Sustentabilidade


A primeira live da série #SemaDebates, realizada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema), reuniu nomes de peso da cultura e política afro na Bahia e na África, para fazer uma reflexão sobre o 25 de maio, data que marca o dia da África, instituído em 1963 pela fundação da Organização de Unidade Africana (OUA). Do lado de cá do Atlântico, os convidados foram João Jorge, presidente do Olodum e mestre em Direito Público; Zulu Araújo, diretor da Fundação Pedro Calmon e Sílvio Humberto; vereador de Salvador, professor da Universidade Federal de Feira de Santana (Uefs) e presidente de honra do Instituto Cultural Steve Biko. Do lado de lá do oceano, em Angola, contamos com a participação de Florita Cuhanga Antônio Telo, mestre em Ciências Jurídicas e doutora em Estudos Interdisciplinares em Gênero, Mulheres e Feminismo. O debate teve a mediação de Cláudia Sisan Santana, professora doutora da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e coordenadora de Educação Ambiental da Sema.

A live da Sema promoveu o diálogo e reflexão sobre políticas públicas e estratégias governamentais de combate ao novo coronavírus, gênero, cultura, sociedade e desenvolvimento ambiental sustentável. Para Florita Telo é muito importante termos um dia para comemorarmos a África. “Silenciando as armas, criando condições favoráveis para o desenvolvimento da África e intensificando o combate ao Covid-19, este foi o lema adotado pela comunidade Angolana nesse momento de pandemia mundial”, afirmou.

Florita explicou que a estratégia utilizada pelos gestores públicos angolanos foi pautada pela repressão, com tanques de guerra nas ruas e militares armados, e não contou com o apoio ou participação popular. “A justificativa era combater a pandemia, mas o que estamos vendo é um combate aos pobres. Hoje contamos 11 jovens mortos pela polícia com justificativa de desobediência. Em Luanda temos relato de pessoas morrendo de fome, temos crianças, jovens e adultos recolhendo comidas do lixo. E mesmo nessa fase grave da pandemia, o governo é denunciado por corrupção. É a necropolítica que nos condena todos os dias, condena os afrodescendentes que estão fora do continente e condena a nós aqui, com a corrupção”, afirmou.

A partir desta agenda repressiva surgiu em Angola uma discussão em torno do que deveria ser a estratégia dos estados africanos para lidar com a Covid-19. “Precisamos de um Estado capaz de subsidiar um sistema básico de saúde, de bem-estar social e com apoio aos trabalhadores informais. O nosso maior problema não está relacionado à falta de dinheiro, e sim à incompetência e baixa capacidade das classes dirigentes em seguir os planos traçados em Angola”, explicou Florita. 

As condições sociais em que vive a maioria da população negra no Brasil e na Bahia foi destaque na fala do presidente do Olodum. “Nossa gente vive em casa com mais de seis pessoas, em condições de extrema pobreza. Nas favelas, as senzalas atuais, a pandemia corre solta, matando a todos. E é justamente nesse momento que temos que pensar nas soluções e essas soluções passam por políticas públicas estruturantes”, afirmou João Jorge. 

João falou ainda sobre cultura, destacando o papel do Olodum como uma experiência simbólica dessa diáspora africana. O que foi ressaltado também por Silvio Humberto. “Temos que reconhecer o papel dos blocos afros nesse processo de preservação da nossa africanidade. Sua capacidade em obter o reconhecimento dessa África que habita em nós, de forma simples e complexa”, afirmou Silvio, falando ainda sobre a ação do movimento negro ao reelaborar o sentido da áfrica para os africanos, e como isso ganha nova dimensão com a diáspora, transformando os africanos em negros e negras ao deixarem o seu continente.

Em sua fala, Zulu Araújo trouxe para reflexão o assassinato de George Floyd, homem negro de 46 anos, por um policial branco no estado americano de Minnesota, que resultou em diversas manifestações em várias cidades nos Estados Unidos e no mundo. “A brutalidade contida naquele ato tem a ver com uma cultura de violência e desumanização que ocorreu mundo afora, e o Brasil e África não estão afastados disso. Por conta desse processo de desumanização, e em particular dos seres humanos de pele negra, temos os aparelhos do estado promovendo uma verdadeira matança. E a reação foi como uma bomba de efeito retardado, com milhões de norte americanos nas ruas, e seres humanos no mundo afora, gritando em alto e bom som que as vidas negras importam”, afirmou Zulu. 
 
Para finalizar, Florita fez um pedido aos baianos. “Que Salvador e a Bahia mantenham acesa essa chama que nos une África e Brasil, e que tenha plena consciência do quanto precisamos da sua colaboração para que Angola e os outros países africanos alcancem a nossa tão desejada independência” afirmou.

Para conferir esta, e as outras lives da série #SemaDebates, basta acessar o youtube ou facebook da Secretaria do Meio Ambiente – Sema.

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