O maior e também mais conhecido riacho da capital é o do Reginaldo, popularmente chamado de Salgadinho. Ele nasce na Santa Lúcia e percorre 12 bairros até chegar à Praia da Avenida, onde despeja toda a sujeira, tornando-a imprópria para banho.
Com duas cabeceiras situadas na parte alta da cidade, sendo uma apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e uma pela Prefeitura de Maceió, o Salgadinho tornou-se um extenso problema urbano. E não é preciso ir muito longe para perceber. Basta cruzar as muitas ruas e avenidas por onde ele passa.
A dona de casa Josefa Júlia da Conceição, de 47 anos, que reside próximo ao início do percurso desse riacho, é só reclamação. Além do forte mau cheiro com o qual tem que conviver, bichos como ratos, baratas e escorpiões colocam em risco a saúde dela e de toda a família. Quando chove, a situação fica ainda pior, pois o Salgadinho transborda e alaga a rua em que mora, espalhando sujeira e larvas pelas casas.
“Tem muito bicho por aqui e nós precisamos estar atentas, principalmente, por conta das crianças. Minha vida é lavar o chão e arrastar os móveis para que fique tudo limpo, mas quando chove fica difícil. Alaga tudo e umas larvas pretas começam a subir pelas paredes e a atenção tem que ser redobrada", afirma a moradora.

Ao longo de todo o percurso, esse gigante de cor escura recebe águas poluídas de diversos afluentes, sendo que os principais deles são os riachos do Sapo e o Gulandin, cujos locais exatos das nascentes não são apontados pelo IMA. Sabe-se, apenas, que eles iniciam no bairro do Poço, onde cruzam com o Salgadinho e tornam-se um só.
Esses afluentes recebem, além dos esgotos não canalizados que saem das casas, muito lixo doméstico proveniente da falta de consciência e educação ambiental dos moradores do entorno. Em uma olhada rápida, é possível encontrar uma variedade de produtos descartados, como sofás e até carcaças de aparelhos eletrônicos, como TVs e monitores.
“Esses riachos provocam sérios problemas de saúde pública e de proliferação de vetores, além de tornarem a Praia da Avenida não balneável durante os doze meses do ano. As pessoas têm mania de jogar lixo nas águas. Virou uma questão cultural e é uma atitude que precisa ser revista", destaca Ricardo César.

O filho de Maria José, Fábio de Souza, pescador nascido e criado em Bebedouro, diz que não consegue se acostumar com tantos problemas. “Um conhecido nosso aqui, que morava em Santa Luzia do Norte, morreu por conta do Schistosoma. Tudo isso por causa desse riacho que é muito poluído e vem carregando lixo de longe. Nenhuma casa aqui tem fossa e o povo ainda joga lixo nas águas", lembrou.
Fábio lembra que, quando criança, brincava dentro do riacho e os vizinhos pescavam nas águas, hoje poluídas. De lá para cá, viu a situação se agravar a cada ano. "É muito triste morar aqui com essa podridão toda e o pior é que ninguém consegue resolver esse problema”, diz.
O pescador Jesiel Cândido da Silva, 55 anos, consegue viver em um barraco erguido às margens do Riacho do Silva e trabalhar dentro das águas sujas. Ele fabrica artigos de pesca em meio a toda a poluição. Diz que não tem outra alternativa e afirma que já viu muitas pessoas contraírem doenças por conta das águas fétidas. "Aqui é doença a toda hora. Não tem como escapar desses problemas porque tem bicho morto e muito esgoto nessas águas", disse.
De acordo com o médico sanitarista Teófilo Guimarães, diversos males podem ser contraídos por meio da ingestão ou do contato do homem com a água contaminada, como a leptospirose, a hepatite A e esquistossomose, que são as mais graves, e a ameba e a giárdia, menos agressivas.
Segundo ele, a capital alagoana, apesar do alto nível de poluição das águas dos riachos, não possui epidemia de esquistossomose, já que o caramujo contaminado não é encontrado nesses locais. Essa informação também é confirmada pelo gerente do Programa de Controle das Enteroparasitoses da Secretaria Municipal de Saúde, Carlos Arnaldo dos Santos. Mesmo assim, Maceió registra, anualmente, cerca de 600 novos casos da doença.
“Esses novos casos que surgem são de pessoas que vêm do interior, que tomam banho em rios onde existe o caramujo contaminado, pois em Maceió eles não estão presentes", diz Carlos Arnaldo.




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